sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A CARTA DE AMIENS - UM MARCO PARA O SINDICALISMO REVOLUCIONÁRIO


[TRECHO DO] PREFÁCIO DA IHS (INSTITUT D’HISTOIRE SOCIALE)

Em 13 de outubro de 1906, ao termo de um longo debate consagrado às “relações que devem existir entre as organizações econômicas e políticas do proletariado” (dito de outra maneira, entre os “sindicatos” e os “partidos”), o IXº Congresso da CGT adota uma “ordem do dia”,  cuja importância política só iria crescer ao longo do tempo.
No mês de fevereiro de 1912, o diretor da revista Le MouvementSocialiste, Hubert Lagardelle, então muito próximo dos sindicalistas revolucionários, qualifica o texto de Amiens como a “Carta constitutiva do sindicalismo”, e o Congresso da CGT, reunido em Havre em setembro, o considera como expressão da “constituição moral da classe operária organizada”.
A seguir apresenta-se o texto da Carta de Amiens com a lista de delegados que a propuseram à votação do Congresso.
Informamos que a IHS-CGT publicou uma edição crítica do relatório integral do Congresso de 1906.

A Carta de Amiens
IXº Congresso da CGT
Amiens (8-13 de outubro de 1906)

O Congresso confederal de Amiens confirma o artigo 2, constitutivo da CGT;
A CGT agrupa, fora de toda escola política, todos os trabalhadores conscientes da luta dirigida pela desaparição do assalariado e do patronato...;
O Congresso considera que esta declaração é um reconhecimento da luta de classes que opõe, no terreno econômico, os trabalhadores em revolta contra todas as formas de exploração e de opressão, tanto materiais quanto morais, colocadas em prática pela classe capitalista contra a classe operária;
O Congresso reforça, através dos seguintes pontos, tal afirmação teórica:
Por obra da reivindicação cotidiana, o sindicalismo procura a coordenação dos esforços obreiros, o aumento do bem-estar dos trabalhadores através da realização de melhorias imediatas, tais como a diminuição das horas de trabalho, o aumento dos salários, etc.;
Mas esta tarefa não é senão um flanco da prática do sindicalismo; ele prepara a emancipação integral; que não pode realizar-se senão através da expropriação capitalista; preconiza como meio de ação a greve geral e considera que o sindicato, hoje agrupamento de resistência, será no porvir o agrupamento de produção e de repartição, base da organização social;
O Congresso declara que esta dupla tarefa, a cotidiana e a do porvir, decorre da situação de assalariado que pesa sobre a classe operária e que faz com que todos os trabalhadores, sejam quais forem suas opiniões ou tendências políticas e filosóficas, tenham o dever de pertencera este agrupamento essencial, que é o sindicato.
Como consequência, no que concerne aos indivíduos, o Congresso afirma a total liberdade do afiliado participar, fora do agrupamento corporativo, das formas de luta que bem corresponderem à sua concepção filosófica ou política, reservando-se à solicitar-lhe, em reciprocidade, que não introduza nos sindicatos as opiniões que professa fora deste;
No que concerne às organizações, o Congresso decide que a fim de que o sindicalismo atinja seu máximo efeito, a ação econômica deve-se exercer diretamente contra o patronato, as organizações confederadas não devem, enquanto agrupamentos sindicais, lidar com partidos e seitas que, fora dele e ao lado dele, podem perseguir com total liberdade a transformação social.

SIGNATÁRIOS:

Damos o nome tal e qual escrito na ata seguido entre colchetes do nome verdadeiro e localidade.

Marie [Marie François, trabalhador tipógrafo de la Seine] ;
Cousteau [Cousteau M., trabalhador jardineiro] ;
Menard [MénardLudovic, operário ardoseiro deTrélazé] ;
Chazeaud [Chazeaud Jules, caldeireiro, Lyon] ;
Bruon [Bruon C., construção] ;
Ferrier [Ferrier Louis, serralheiro, Grenoble] ;
E. David, B. d. T. Grenoble [David Eugène, pintor, Grenoble] ;
Latapie [Latapie Jean, metalúrgico, Paris] ;
Médard [Médard Jean-Baptiste] ;
Merrheim [Merrheim Alphonse, metalúrgico] ;
Delesalle [Delesalle Paul, metalúrgico de instrumentos de precisão, Paris] ;
Bled [Bled Jules, jardineiro, Seine] ;
Pouget [Pouget Emile] ;
Tabard E. [Tabard Etienne, cocheiro entregador, Paris] ;
Bousquet A. [Bousquet Amédée, padeiro, Paris] ;
Monclard [padeiro, Marseille] ;
Mazau [Mazaud Jacques, cocheiro de trem de praça, Seine] ;
Braun [Braun Joseph, operário mecânico] ;
Garnery [GarneryAuguste, ourives, Seine] ;
Luquet [Luquet Alexandre, barbeiro, Paris] ;
Dret [Dret Henri, sapateiro, Paris] ;
Merzet [Merzet Etienne, mineiro, Saône-et-Loire] ;
Lévy [Lévy Albert, empregado] ;
G. Thil [Thil G., litógrafo] ;
Ader [Ader Paul, operário agrícola, Aude] ;
Yvetot [Yvetot Georges, tipógrafo, Seine] ;
Delzant [Delzant Charles, vidreiro, Nord] ;
H. Galantus [Galantus Henri, latoeiro, Paris] ;
H.Turpin [Turpin H., viaturas] ;
J. Samay, Bourse du Travail de Paris [Samay J.] ;
Robert [Robert Charles, curtidor de peles, Grenoble] ;
Bornet [Bornet Jules, lenhador, Cher] ;
P. Hervier, Bolsa do Trabalho de Bourges [Hervier Pierre, Bourges] ;
Dhooghe, Têxtilde Reims [Dhooghe Charles, tecelão] ;
Roullier, Bolsa do Trabalho de Brest [Roullier Jules, eletricista, Finistère] ;
Richer, Bolsa do Trabalho de Mans [RicherNarcisse, trabalhador em sapatos] ;
Laurent L., Bolsa do Trabalho de Cherbourg [Laurent Léon] ;
Devilar, corretor de Paris [Devilar C.,] ;
Bastien, Têxtil de Amiens ;
Henriot, Allumettier, [Henriot H.] ;
L. Morel de Nice [Morel Léon, empregado do comércio] ;
Sauvage [moldador de metal] ;
Gauthier [Gautier Henri, caldeireiro, Saint-Nazaire].

Resultado da votação: Pró: 830 – Contra: 8 – Branco: 1



Tradução:
JxPx
P/L.S.O.C
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