Em 13 de outubro de 1906, ao
termo de um longo debate consagrado às “relações que devem existir entre as
organizações econômicas e políticas do proletariado” (dito de outra maneira,
entre os “sindicatos” e os “partidos”), o IXº Congresso da CGT adota uma “ordem
do dia”, cuja importância política só
iria crescer ao longo do tempo.
No mês de fevereiro de 1912, o
diretor da revista Le MouvementSocialiste,
Hubert Lagardelle, então muito próximo dos sindicalistas revolucionários,
qualifica o texto de Amiens como a “Carta constitutiva do sindicalismo”, e o
Congresso da CGT, reunido em Havre em setembro, o considera como expressão da
“constituição moral da classe operária organizada”.
A seguir apresenta-se o texto da
Carta de Amiens com a lista de delegados que a propuseram à votação do
Congresso.
Informamos que a IHS-CGT publicou
uma edição crítica do relatório integral do Congresso de 1906.
A Carta
de Amiens
IXº
Congresso da CGT
Amiens
(8-13 de outubro de 1906)
O Congresso confederal de Amiens
confirma o artigo 2, constitutivo da CGT;
A CGT agrupa, fora de toda escola
política, todos os trabalhadores conscientes da luta dirigida pela desaparição do
assalariado e do patronato...;
O Congresso considera que esta
declaração é um reconhecimento da luta de classes que opõe, no terreno
econômico, os trabalhadores em revolta contra todas as formas de exploração e
de opressão, tanto materiais quanto morais, colocadas em prática pela classe
capitalista contra a classe operária;
O Congresso reforça, através dos
seguintes pontos, tal afirmação teórica:
Por obra da reivindicação
cotidiana, o sindicalismo procura a coordenação dos esforços obreiros, o
aumento do bem-estar dos trabalhadores através da realização de melhorias
imediatas, tais como a diminuição das horas de trabalho, o aumento dos
salários, etc.;
Mas esta tarefa não é senão um
flanco da prática do sindicalismo; ele prepara a emancipação integral; que não
pode realizar-se senão através da expropriação capitalista; preconiza como meio
de ação a greve geral e considera que o sindicato, hoje agrupamento de
resistência, será no porvir o agrupamento de produção e de repartição, base da
organização social;
O Congresso declara que esta
dupla tarefa, a cotidiana e a do porvir, decorre da situação de assalariado que
pesa sobre a classe operária e que faz com que todos os trabalhadores, sejam quais
forem suas opiniões ou tendências políticas e filosóficas, tenham o dever de
pertencera este agrupamento essencial, que é o sindicato.
Como consequência, no que
concerne aos indivíduos, o Congresso afirma a total liberdade do afiliado
participar, fora do agrupamento corporativo, das formas de luta que bem corresponderem
à sua concepção filosófica ou política, reservando-se à solicitar-lhe, em
reciprocidade, que não introduza nos sindicatos as opiniões que professa fora
deste;
No que concerne às organizações,
o Congresso decide que a fim de que o sindicalismo atinja seu máximo efeito, a
ação econômica deve-se exercer diretamente contra o patronato, as organizações
confederadas não devem, enquanto agrupamentos sindicais, lidar com partidos e
seitas que, fora dele e ao lado dele, podem perseguir com total liberdade a
transformação social.
SIGNATÁRIOS:
Damos o nome tal e qual escrito
na ata seguido entre colchetes do nome verdadeiro e localidade.
Marie [Marie
François, trabalhador tipógrafo de la Seine] ;
Cousteau
[Cousteau M., trabalhador jardineiro] ;
Menard [MénardLudovic, operário
ardoseiro deTrélazé] ;
Chazeaud [Chazeaud Jules, caldeireiro,
Lyon] ;
Bruon [Bruon C., construção] ;
Ferrier [Ferrier Louis, serralheiro,
Grenoble] ;
E. David, B.
d. T. Grenoble [David Eugène, pintor, Grenoble] ;
Latapie
[Latapie Jean, metalúrgico, Paris] ;
Médard
[Médard Jean-Baptiste] ;
Merrheim [Merrheim Alphonse, metalúrgico]
;
Delesalle [Delesalle Paul, metalúrgico
de instrumentos de precisão, Paris] ;
Bled [Bled Jules, jardineiro, Seine] ;
Pouget
[Pouget Emile] ;
Tabard E.
[Tabard Etienne, cocheiro entregador, Paris] ;
Bousquet A.
[Bousquet Amédée, padeiro, Paris] ;
Monclard [padeiro, Marseille] ;
Mazau [Mazaud Jacques, cocheiro
de trem de praça, Seine] ;
Braun [Braun Joseph, operário
mecânico] ;
Garnery [GarneryAuguste, ourives, Seine] ;
Luquet
[Luquet Alexandre, barbeiro, Paris] ;
Dret [Dret
Henri, sapateiro, Paris] ;
Merzet
[Merzet Etienne, mineiro, Saône-et-Loire] ;
Lévy [Lévy Albert, empregado] ;
G. Thil [Thil G., litógrafo] ;
Ader [Ader Paul, operário
agrícola, Aude] ;
Yvetot [Yvetot Georges, tipógrafo, Seine] ;
Delzant [Delzant Charles, vidreiro,
Nord] ;
H. Galantus [Galantus Henri, latoeiro,
Paris] ;
H.Turpin [Turpin H., viaturas] ;
J. Samay,
Bourse du Travail de Paris [Samay J.] ;
Robert
[Robert Charles, curtidor de peles, Grenoble] ;
Bornet
[Bornet Jules, lenhador, Cher] ;
P. Hervier, Bolsa
do Trabalho de Bourges [Hervier Pierre, Bourges] ;
Dhooghe, Têxtilde Reims [Dhooghe
Charles, tecelão] ;
Roullier, Bolsa do Trabalho de
Brest [Roullier Jules, eletricista, Finistère] ;
Richer, Bolsa do Trabalho de Mans
[RicherNarcisse, trabalhador em sapatos] ;
Laurent L., Bolsa do Trabalho de
Cherbourg [Laurent Léon] ;
Devilar, corretor de Paris
[Devilar C.,] ;
Bastien, Têxtil
de Amiens ;
Henriot,
Allumettier, [Henriot H.] ;
L. Morel de Nice [Morel Léon, empregado
do comércio] ;
Sauvage [moldador de metal] ;
Gauthier [Gautier Henri, caldeireiro,
Saint-Nazaire].
Resultado da votação: Pró: 830 –
Contra: 8 – Branco: 1
Tradução:
JxPx
P/L.S.O.C.
JxPx
P/L.S.O.C.