quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Os Anarquistas: A disciplina revolucionária dos makhnovistas

Diferente das correntes anarquistas ligadas a pequena-burguesia - a exemplo do individualismo. Diferente dos coletivos espontaneístas devorados por correntes autoritárias ou pela extrema direita, uma realidade concreta - O MAKHNOVISMO. A ação de um movimento camponês anarquista no sul da Ucrânia, altamente disciplinado por seu principal líder, o camponês anarquista Nestor Makhno, armou-se, derrotou o Exército Branco dos Capitalistas, desafiou os acordos do Exército Vermelho Bolchevista e implantou um sistema justo de distribuição de terras para os camponeses ucranianos. A garantia da posse da terra se confirmou por meio da declaração do Território Livre da Ucrânia, que instituiu decretos revolucionários, fazendo-se valer por meio da formação de um exército camponês anarquista, conhecido por toda Ucrânia como Exército Negro Insurgente Camponês da Ucrânia. De 1918 a 1921 defendeu o povo da ucrânia tanto dos capitalistas reacionário, quanto dos estatistas autoritários. O ano de 2021 lembraremos em nossas comemorações o Centenário esse avanço organizacional, teórico e prático, desenvolvido pela fortaleza inexpugnável do Anarquismo, o grande e revolucionário Nestor Makhno, a Comuna camponesa de Hulaipole e seu Exército Negro. O secretariado da Liga Sindical Operária e Camponesa declara 2021 como mais um ano de lembranças do seu legado e convoca e comemorações do centenário da gloriosa Makhnovitchina.



SOBRE A DISCIPLINA REVOLUCIONÁRIA 

Nestor Makhno 

Alguns camaradas me fizeram a seguinte pergunta: como é que eu entendo a disciplina revolucionária? Vou lhes responder. Compreendo a disciplina revolucionária como uma autodisciplina do indivíduo, estabelecida num coletivo atuante, de modo igual para todos, e rigorosamente elaborada. Ela deve ser a linha de conduta responsável dos membros desse coletivo, induzindo a um acordo estrito entre sua prática e sua teoria. Sem disciplina na organização, é impossível empreender qualquer ação revolucionária séria. Sem disciplina, a vanguarda revolucionária não pode existir, porque então ela se encontrará em completa desunião prática e será incapaz de formular as tarefas do momento, de cumprir o papel de iniciador que dela esperam as massas. Faço repousar esta questão sobre a observação e a experiência de uma prática revolucionária consequente. De minha parte, baseio-me sobre a experiência da revolução russa, que tinha um conteúdo tipicamente libertário sob muitos aspectos. Se os anarquistas estivessem firmemente ligados no plano organizativo e tivessem observado, em suas ações, uma disciplina bem determinada, não teriam jamais sofrido uma tal derrota. Mas, porque os anarquistas "de todo estilo e de todas as tendências" não representavam, mesmo em seus grupos específicos, um coletivo homogêneo, com uma disciplina de ação bem definida, não puderam suportar o exame político e estratégico que lhes impuseram as circunstâncias revolucionárias. A desorganização conduziu os anarquistas à impotência política, dividindo-os em duas categorias: •a primeira foi a dos que se dedicaram à sistemática ocupação das residências burguesas, nas quais se alojaram e viveram para o seu bem-estar. Eram os que eu chamo de turistas, os diversos anarquistas que vão de cidade em cidade, na esperança de encontrar um lugar onde permanecer algum tempo, espreguiçando-se e desfrutando o máximo possível de conforto e prazer. •a segunda se compunha dos que romperam todos os laços honestos com o anarquismo (ainda que alguns deles, na URSS, façam-se passar agora pelos únicos representantes do anarquismo revolucionário) e se lançaram sobre os cargos oferecidos pelos bolcheviques, no momento mesmo em que o poder fuzilava os anarquistas que permaneciam fiéis ao seu posto de revolucionários e denunciaram a traição dos bolcheviques. Diante desses fatos, compreende-se facilmente porque eu não posso continuar indiferente ao estado de despreocupação e negligência que existem atualmente em nossos meios. De uma parte, isso impede a criação de um coletivo libertário coerente, que permitirá aos anarquistas ocuparem o lugar que lhes cabe na revolução. Doutra parte, isso permite contentar-se com belas frases e grandes pensamentos, omitindo-se no momento de agir. Eis porque eu falo de uma organização libertária apoiada sobre o princípio duma disciplina fraternal. Uma tal organização conduzirá ao acordo indispensável de todas as forças vivas do anarquismo revolucionário e o ajudará a ocupar seu lugar na luta do Trabalho contra o Capital. Por esse meio, as ideias libertárias certamente ganharão as massas e não se empobrecerão. Somente os fanfarrões consumados e irresponsáveis fugirão diante de uma tal estrutura organizacional. A responsabilidade e a disciplina organizacionais não devem horrorizar: elas são companheiras de viagem da prática do anarquismo social.

 Dielo Trouda, n°s 7-8, dezembro de 1925 – janeiro de 1926.

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